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Mostrando postagens de dezembro, 2019

Majestic Café

​ O lugar era belíssimo. Cheio de imponência. Construído em uma época na qual a ostentação do luxo e da riqueza se traduziam em rebuscadas decorações, brilhos dourados , mármores  sofisticados , espelhos  grandiosos , madeiras envernizadas. O prédio datava de 1921. O café e seus acompanhamentos seguiam a mesma aura de glamour da Belle Époque. Tudo muito bem servido, tudo delicioso.  José pediu um chocolate quente. Estava tão absorto em seus pensamentos que nem sabia o que o amigo e as respectivas esposas conversavam. Queria estar bem distante dali. Um novo ciclo de palestras se iniciaria na próxima primavera e ele não via a hora de sentir novamente aquela liberdade de ser quem quer ser, de estar só e de ter todo o seu tempo para fazer o que gosta.  Desde que se tornou uma celebridade do mundo das finanças, as viagens para palestras tornaram-se habituais em sua rotina. Já havia ido para vários países da Europa e Ásia, sem falar, é claro, nos Estados Unidos. Adorava viver esse

O sabiá virgem, por Max Moura Wolosker

Não havia muito tempo que o som do canto do passarinho se fazia ouvir tão logo o dia raiava. 5 horas da manhã, agora que não tem mais horário de verão, e lá estava o dito cujo fazendo as vezes de galo decretando que ,por ele, já tinha dado, já estava na hora dos vizinhos acordarem. A princípio, urbanos que eram, ninguém sabia que pássaro era aquele. Não era incomum observar os moradores embaixo do prédio, olhando para cima, procurando pela razão de sua insônia. Um deles chegou a gravar o canto do pássaro para mostrar a um amigo seu, biólogo, que decretou: era o canto do sabiá à procura de uma fêmea para procriar. Infelizmente para os moradores, e mais ainda para o Sabiá, parece que as sabioas estão em falta no mercado. Ou era isso ou, então, a árvore que ele escolheu para morar, por mais frondosa que fosse, não estava localizada na melhor das vizinhanças para os propósitos do sabiá. De tanto praticar, estava claro que o Sabiá sabia assobiar. Se da prática vem a perfeição

Que experiência foi aquela? - Taíse Ribeiro

Mulheres selvagens, com vidas corridas, com grandes histórias e grandes sentimentos. Gratidão: o universo  para esse encontro de almas.  E lá estávamos nós, sentindo e escrevendo sobre diários, liberdade, tigresas e solidariedade. Que oportunidade foi aquela? Se expor e ter já apreciadoras. Apreciar a exposição de pensamentos que movimentam. Liberdade de se sentir acolhida em meio a tantas diferenças e semelhanças.  É preciso cuidar, deixar o amor inundar. Cuidar das tigresas que nasceram em mim e nas outras. Por isso sou grata e não ingrata. 

Mulheres resistindo em poesia - Wandréa Marcinoni

A mesa já à entrada me lembrou do partilhar: alimento do corpo e da alma. O tapete branco estendido no chão, as flores amarelas ao centro, a menina/boneca/mulher. As mulheres, os pés descalços, a vela amarela, transformar co círculo num container. A pedra, força, fortaleza, passando de mão em mão. A escrita libertária da mulher que se dobra, dobrável, que tem medo e coragem, que fala ou não fala, a liberdade, o que somos se estamos todos nus por debaixo das roupas, os sons, o silêncio, a mistura da voz, os ecos, o sino tibetano, a alternância do tempo, o estar, o ser, o sentir. A filha da filha da filha, o mar que vai e volta, as ondas, Iemanjá. A falta, o preenchimento. As angústias divididas que se tornam como o sol quando faz frio. As vontades, a entrega, a mulher que sozinha só se faz quando está junto delas. O coletivo, o plural, o simples sentir da mulher com toda sua imperfeita perfeição. Um diário de capa amarela. Mulheres que liam na ditadura, na democracia não mais. Mu

A TROMBA (A história que não te contaram) - André Lima

Hoje eu vou contar para vocês a história de como as trombas surgiram. Não tem nada a ver com evolução, Deus criando o mundo em sete dias, Alá, Buda, seja lá o que for, isso é tudo mentira, mentira pura, então já exclua isso da sua cabeça. As trombas surgiram no planeta Kalungs 364b-4, que fica na galáxia de Não Sei, no aglomerado de No Meio do Nada. O nome da estrela que iluminava o planeta era Inês-xixtenti e o nome do satélite natural era Siela, (Siela existisse eu falava mais dela). As trombas no início eram seres autônomos e não precisavam de outros seres para sobreviverem. Porém, naquele tempo, governava um rei muito malvado, que enviou uma equipe de espionagem para estudar a Terra, e preparar as trombas para um eventual ataque. Lá elas encontraram os elefantes e acabaram se tornando dependentes deles, porque não precisavam se cansar e tinham comida sempre que queriam, pois quando os elefantes pegavam algo com a tromba, elas tiravam uma parte para consumo próprio.

A menina

            Era uma menina de 11 anos. Tinha os traços indígenas como todas as meninas da região. A pele morena, olhos levemente puxados, cabelo bem preto e liso, os seios eram pequenos botões desabrochando e em seu ventre crescia um bebê. Ela soube de sua condição quando a barriga começou a crescer. A mãe pensou que fosse verme e a levou ao médico. O médico disse que ela estava grávida. Em sua inocência teve um primeiro pensamento de que agora teria a boneca que toma mamadeira e faz xixi que tanto desejara. A mãe se desesperou. Não sabia como isso tinha acontecido. A menina também não. Pensou que pudesse ter sido naquele dia que foi com o amigo do pai passear pela orla do Rio Branco. Ele tinha prometido que daria um pico lê de cajá pra ela. No meio do passeio ele falou que queria mostrar uma coisa pra ela e, sua curiosidade, a fez entrar no matagal. Depois não lembra direito o que aconteceu. Ele fez uns carinhos, disse que ela era muito bonita e, em certo moment