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Mostrando postagens de março, 2020

Pela fresta da janela - Magali Guimarães

..................... o que vejo não desejo pela fresta da janela sinto angústia tenho medo não há conforto só gritos contidos rajadas de vento corpo morto o silêncio engoliu o alvoroço o que vejo não desejo pela fresta da janela sinto raiva tenho medo nem mesmo é agosto mas pressinto o agouro prenúncio de dias frios amores perdidos o sufoco ocultando o leve sopro o que vejo não desejo pela fresta da janela sinto angústia tenho medo solidão de lápides aprisionando os sorrisos beijos sem boca abraços ausentes o tudo é nada, o exato, impreciso pela fresta da janela vejo mas não desejo... (Imagem: Edward Hopper) #ficaemcasa

Diários da Quarentena Post 1 - Mariana Munhoz

Olhou para a garrafinha transparente quase completamente preenchida por água e raízes.  A palmeira estava ainda verdinha e exalando vida. Lembrou-se do dia em que aquele delicado  presente  chegou . Veio junto com o frescor do amor recém declarado e com a novidade de juntar as vidas que outrora caminhavam separadas. Naquele instante, sorriu.  Olhou em volta.  Casa pequena. Casa bagunçada. Mas era casa. Será que ainda era casa mesmo? A sala virou escritório. O quarto, academia. A cozinha, sala de reunião.  Era o lugar onde já estava há 4 semanas sem sair. Dias de isolamento. O ano em que o mundo parou. Foi obrigado a parar, na verdade. O inimigo, invisível. Microscópico. Fez-nos ter medo do contato humano.   Tic   tac .  Tic   tac .  O tempo  agora se arrasta  mais do que nunca.  O mundo realmente parou. Ninguém se toca, ninguém se encosta. Ninguém se beija, ninguém se abraça. O medo tomou conta. Medo do incontrolável. Medo da dor.  Mas  a palmeirinha con