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Mostrando postagens de outubro, 2018

CANSAÇO - Conceição Couto

Não me imagino num país governado por quem não me representa. A população armada contra os negros, contra os LGBTQs, contra as mulheres, contra si mesma, contra mim. Jogaria a toalha sem pestanejar não fosse essa vida de 11 anos a pulsar por todos os cantos do mundo. Não fosse eu a imaginá-la daqui a dez anos, crescendo num país a discriminá-la. Ainda ontem a catequista tentou ensinar que não se deve repetir as palavras do Celebrante durante a preparação do rito da Comunhão. Perguntou a ela? “ Você é o padre?” Ao que ela respondeu, “Não,  sou a Madre” - o que me encheu de orgulho, pois, no lugar dela, na minha catequese, teria baixado a cabeça e quase chorado. Era assim que as crianças se comportavam em tempos de submissão. Mas ela não. Ela sabe se defender. Disse eu para a Catequista que eu também falara junto. Eu a defendi em meu nome. Eu me defendi. Talvez por ela ainda haja dentro em mim, bem escondida, alguma resistência, mas não mais por mim. Verbal, 8 de outub

Resistir na Poesia

“O verdadeiro poeta é sempre um resistente. Mas o falso poeta, sejam quais forem as causas que diz defender, é sempre um conivente” disse Sophia de Mello Breyner Andresen, escritora portuguesa,  em entrevista em 1963. Um ano antes do golpe militar que sofreu o Brasil, em 1964, e que nos trouxe  vinte anos de ditadura e uma herança antidemocrática e autoritária que nos prende a tantos como se vivêssemos ainda uma síndrome de Estocolmo.  Hoje, 2018, suas palavras me consolam no destino de ser poeta, na minha verdade e no fato de estar cercada de verdadeiros e resistentes outros poetas. Resistimos juntos, na busca da luz nessas trevas, na busca de um país em que impere o amor e triunfe o que é diverso.  É no diverso que reside o belo, é no belo que mora a poesia. O belo de cada dia, o belo da garra e da luta, o belo do suor do trabalho, do olhar com respeito e amor, da verdadeira fé no humano.   Sophia nos alerta, também, lá em 1963, que “a poesia é uma