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Mostrando postagens de julho, 2017

A casa - Rosimar F Mello

Lembro das manhãs frias de inverno. A mãe escancarava as janelas, segundo ela, para trocar o ar. Era para ela um ritual de limpeza incluído em sua rotina diária. Eu, com minha saia curta, tentava cobrir as pernas com o pouco pano que havia.   Lembro, também, de nos sentar na escada que dava para o quintal. O avô gostava de tomar sol depois do almoço. Acabávamos, todos ali sentados, buscando pela luz precária no calor da companhia familiar.   Lembro-me, ainda, nessa infância gloriosa, das laranjeiras em flor. Do cheiro doce que se espalhava no quintal, junto com o zumbido de abelhas. Não duravam muito. Logo, os pequenos frutos viriam substituí-las e, mais adiante, o tempo traria laranjas amarelas, mangas e limões maduros daquele terreno pródigo.   Na hora do almoço, a mãe desceria à horta para colher o que estivesse pronto para uma salada ou um refogado. Trabalho do pai, que a horta retribuía com alfaces, couves e tomates que ajudavam a alimentar os filhos em crescimento.   E tinha, tam

O nome da rosa - Rosimar F. Mello

  Lembrar-me do que vivi: hoje é um esforço. A vida parece comprida, enquanto vivida . Mas aquelas horas longas, impacientemente aguardadas, parecem todas uma só depois de consumidas, comprimidas, enfileiradas, amarradas em um nó.    Cheguei a Brasília em agosto. A terra seca, vermelha e um céu de tirar o fôlego. A cidade mais jovem que eu,  mas também  difícil, angulosa, sem centro, sem esquinas, sem nomes nas ruas.  E  eu ganhei um nome novo:  rosa . Era de brincadeira ,  quase um bullying,  mas a brincadeira ficou séria. Presentes são, às vezes, assim.  Mesmo os tortos.  A rosa cresceu e tomou conta de mim.  E e ra tão diferente de mim, que ganhou vida própria. Eu, claro, era aquela menina de cidade do interior. A rosa era outra, a dos palcos de teatro, dos poemas, dos novos amigos.  E estava aí o conflito: havia duas mulheres em mim. Uma enge nheira, outra poeta, uma toda o su perego, outra toda o id.   Eu trabalhava  de dia. A rosa noturna escrevia poemas em guardanapos, pelos bar