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Mostrando postagens de abril, 2020

Olhos - Adriana Gomes

 Minha mente vai e volta... me lembrei do dia que senti na alma a dor de um amor ou uma lembrança desse amor. Ele contava para outra pessoa, possivelmente para eu ouvir, que não sente falta da faculdade por causa das pessoas. Segundo ele as pessoas queriam ser aceitas por serem diferentes, mas não o aceitavam do jeito que era. Seria ele tão mais diferente de mim? Seria eu a diferente? Mal sabe ele que é amado por amigos, colegas, família, chefe... por mim.  Seus olhos castanhos, sobrancelhas e cílios marcadamente negros e profundos: "olhos de ressaca, com uma força que atrai tal qual a ressaca atrai a água de volta ao mar" não veem a realidade a sua volta. Não se enxerga e não enxerga o outro. Prefere entregar-se a lembranças e memórias de uma mente oculta a toda e qualquer resposta que pode ser dada, optou por viver sua própria escuridão, já tinha em si a amargura e o medo da vida e o medo de mim.  Existem perguntas, assim como respostas que talvez seja conve

Brasília - 1993 - Cecília Aprigliano

Brasília foi uma grande surpresa em minha vida. Outros rostos, outra paisagem.  A minha vinda para Brasília teve um gosto de festa. Estava com medo, mas a novidade de tudo me fazia ficar tão atordoadamente feliz.  Brasília era um mundo de horizontes em todos os sentidos. No geográfico, no emocional e no profissional. A geografia era obviamente tão distinta de tudo que eu estava acostumada, mas era maravilhoso. O sol brilhava muito forte, a luz entrava nos olhos e no nosso corpo de uma forma quase revigorante. Recordo-me do dia que cheguei : a o sair do aeroporto a luz do sol invadiu  meu  corpo, através dos olhos, que não esperavam uma luminosidade tão intensa.   Fui tão bem recebida pela Brasília de amplos horizontes e por amigos queridos. Ia caminhando pelas superquadras com a certeza de que podia viver ali.  A minha profissão  ia crescer aqui, mas eu ainda não sabia.  Logo na chegada procurei colegas de profissão para entender as minhas possibilidades no planalto. Uma ce

Uma caixinha de segredos - Magali Guimarães

Uma caixinha de segredos, de abri-la tenho medo... Será que guarda minha esperança perdida?  Será que oculta minha indigesta culpa?  Estará nela escondida,  entre retalhos de desgosto e amargura,  minha antiga candura?  Uma caixinha de segredos carmim, bem pequena...  parece caber todas as minhas penas...

Insignificâncias Wandréa Marcinoni

           Afaguei teu corpo no primeiro dia. Pequeno abrigo: meus braços. Estive distante por 1 ano e meio. Perdas irreparáveis foram o minuto e a tarde que não estive contigo. Afinal, tua falta eu só senti quando amanheceu.         Foi puro esquecimento não te ligar. Pra quê? Você estaria no pilotis quando eu quisesse. Mas eu não quis. Só olhei pela janela através das grades brancas programadas como códigos de barras presos ao prédio.        Da bancada verde catei as folhas lá de baixo. Eram secas, caídas, sem vida, mas montei pequenos jarros inexistentes, pomposos, transparentes, escorados contra a pequena parede lateral. Era pra crescer dali uma flor, uma flor que eu desconheço, mas que achei que cresceria, porque achei que você viria para agua-las.       Liguei a luz dentro da sala. O lustre central pendente, imitando um candelabro do avesso me lembrou que era sábado e que você não veio. As folhas caíram como pó, pela janela, no chão meio verde, meio terra, meio vermel