Pular para o conteúdo principal

Diários da Quarentena Post 1 - Mariana Munhoz



Olhou para a garrafinha transparente quase completamente preenchida por água e raízes. 
A palmeira estava ainda verdinha e exalando vida. Lembrou-se do dia em que aquele delicado presente  chegou. Veio junto com o frescor do amor recém declarado e com a novidade de juntar as vidas que outrora caminhavam separadas. Naquele instante, sorriu. 
Olhou em volta. 

Casa pequena. Casa bagunçada. Mas era casa. Será que ainda era casa mesmo? A sala virou escritório. O quarto, academia. A cozinha, sala de reunião. 
Era o lugar onde já estava há 4 semanas sem sair. Dias de isolamento. O ano em que o mundo parou. Foi obrigado a parar, na verdade.
O inimigo, invisível. Microscópico. Fez-nos ter medo do contato humano.  
Tic tacTic tac
O tempo 
agora se arrasta 
mais do que nunca. 

O mundo realmente parou. Ninguém se toca, ninguém se encosta. Ninguém se beija, ninguém se abraça. O medo tomou conta. Medo do incontrolável. Medo da dor. 
Mas a palmeirinha continuava lá.  Verdinha e exalando vida. 

Comentários

  1. Expressão dos nossos dias!!👏🏻👏🏻👏🏻

    ResponderExcluir
  2. "Mas a palmeirinha continuava lá. Verdinha e exalando vida" 🌿 Pude sentir o frescor do verde da Palmeira que existe, insiste, resiste. Sejamos como ela! Belo texto!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

 Água sólida, Água líquida, Água gasosa;  Água viva, Água morta, Água parada;  Água doce, Água salgada, Água que me faz viver a cada passada;  Água do rio, Água neutra, Água do mar;  Água desperdiçada Água suja Água que cai em pé e corre deitada;   Água pura, Água tratada, Água reutilizada;  Água, Água,...,  Água, Água….,   Água que deságua no lago paranoá  Água cristalina,  Água do céu;  “Água de beber camará”

Hoje não é dia do índio - Karenina Bispo

                                            Créditos da foto: Folha de São Paulo O “Dia do Índio” Eu me senti instada a falar de mim. No dia 19 de abril, foi lembrado do dique costumávamos chamar de “Dia do Índio”. No Instagram eu fiz a publicação de um Reels em que alguns indígenas falam da diversidade de seus povos, populações que já estavam aqui e habitavam este país quando houve a invasão portuguesa que dizimou a maior parte dessas populações e apagou sua cultura e existência. “Hoje não é dia do índio” dizia o vídeo.  Falando de mim, eu devo admitir que já fui essa pessoa que questionou a “legitimidade desses povos” e questionei à época se ainda “existia índio” no Brasil, sendo estes civilizados. Mas que grande preconceito, não é mesmo? Admito também que já fui uma pessoa contra cotas, fossem elas quais fossem. Mas nossa! Como o tempo passou e me fez...

Receita aromática - Amanda Wanderley

Para sentir o cheiro da raiva, misture uma pitada de grosseria, ¾ de xícara de impaciência, um punhado de intolerância, uma colher de sopa de pisada no pé, um sachê de celular ligado no cinema, uma dose de andar sem máscara na pandemia e ½ colher de pernas pra que te quero. Mexa bem e inale antes de dormir.