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Mostrando postagens de maio, 2019

O Universo que mora em mim - Lorena Santana

Todo mundo que me conhece sabe que eu sou como um planeta que gira em torno do Sol. Que às vezes mais distante, às vezes mais perto, mas sempre em movimento. Girando no próprio eixo, sentindo a gravidade da minha essência, mas sem deixar de girar para o universo, para a vida, para os outros planetas que me cercam.  Todo mundo que me conhece sabe que é assim que eu me expresso. O Sol é uma estrela guia, igual a um imã que não me deixa sair de rota, mas me encoraja a seguir em movimento. O Sol não é o destino, e sim a lembrança da vida, da importância de seguir o ritmo e o compasso que o seu calor me faz sentir.  E sigo rodando, na rota solar, às vezes me aquieto, às vezes me agito. Às vezes me distancio, às vezes me aproximo. Às vezes com a atenção na minha própria rotação, às vezes com a atenção no universo que gira ao meu redor.

De Mariana Costa

Faltava uma hora para o início do espetáculo. Thaís chegara cedo. Poderia desistir de comparecer ao evento se esperasse em casa, no seu quarto, rodeada pelas lembranças das quais ainda não se desfizera. Acomodou-se na poltrona indicada no ingresso que amassara na mão. Ficava na extrema direita de uma fileira pouco além da metade da plateia. Um senhor calvo e bem vestido tentou puxar conversa, perguntando se era parente ou amiga de algum dos músicos. Thaís se esforçou para corresponder à simpatia do homem com um sorriso, mas ele logo percebeu seu desinteresse. Checou o celular compulsivamente por alguns minutos e então as luzes se apagaram, anunciando o início do concerto. Por detrás do pano, nos fundos do palco, vislumbravam-se as silhuetas carregando seus instrumentos. A melodia suave começou e com ela as luzes aos poucos se acenderam. Lá estava ela. Manoela. Discreta, rosto impassível. Apoiava o violino no queixo, alheia aos demais músicos. Thaís tentou desvi...

De Mariana Costa

Quando os boletos daquele mês foram empurrados pela fresta da porta e o banco friamente acusou insuficiência de saldo, Rita cozinhou algumas marmitas extras antes de sair de casa rumo ao portão da escola. Chegando para mais um dia de aula no turno da tarde ou encerrando uma manhã de estudos, aqueles alunos famintos garantiriam o sustento da semana. Era assim que Rita encarava a vida. Para tudo havia uma solução. Pensamento positivo e dedicação eram os ingredientes de sua resiliência, o fermento do tão estranho otimismo que permeava aquela casa de tijolos na periferia da cidade. Rita se orgulhava de ter transmitido aos filhos essa maneira leve de conduzir a vida. Quando o pequeno João voltou da pelada com os amigos naquele fim de tarde, carregando a bola furada embaixo do braço, ele não titubeou: seguiu para o quarto, sem reclamar nem se lamentar, e um punhado de meias velhas enroladas umas sobre as outras se transformaram em solução. -------- Os textos de Mariana Costa p...

Devorado - Igor Moreira Moraes

De um bilhete sujo deixado sobre a mesa do restaurante vagabundo, o garçom pôde ler: “...triste, tão triste... tudo o que eu tentava fazer dava errado. Todos que eu tentava agradar viravam-me a cara. Não tinha mais o que fazer. Tentando voltar pra casa, eu só gostava de caminhar no escuro, ali eu sentia a humanidade. Ali eu soube que a humanidade e qualquer um que a defendesse eram igualmente podres. Ou ingênuos. E, nesse caso, eu não sei o que seria pior. Deixar esse homem faminto comer da própria carne? Eu bem que deveria ter comido, engolido eles todos. É um tempo que me dói lembrar. Quando me vem a memória, eu tenho a exata noção de como o sofrimento é um valor infinito, não se subtrai por completo com o tempo. Já morri de fome, já morri de sede, já quase morri insone. Já morri sozinho e com os outros. Hoje morro de tédio, nos fins de semana. Mas também morro diariamente, quando lembro de tudo que aconteceu.” Jogou o bilhete no lixo e continuou a faxina, antes q...

Mãe (12/05/2019) - Adriano P

Verdade da natureza Pacto de sangue Nervos à flor da pele Águia Fêmea feroz Guardiã Amor abissal À prova d’água Inoxidável Conforto Luz amarela Sopa quentinha Gosto de saudade