Pular para o conteúdo principal

De Mariana Costa

Quando os boletos daquele mês foram empurrados pela fresta da porta e o banco friamente acusou insuficiência de saldo, Rita cozinhou algumas marmitas extras antes de sair de casa rumo ao portão da escola. Chegando para mais um dia de aula no turno da tarde ou encerrando uma manhã de estudos, aqueles alunos famintos garantiriam o sustento da semana.

Era assim que Rita encarava a vida. Para tudo havia uma solução. Pensamento positivo e dedicação eram os ingredientes de sua resiliência, o fermento do tão estranho otimismo que permeava aquela casa de tijolos na periferia da cidade. Rita se orgulhava de ter transmitido aos filhos essa maneira leve de conduzir a vida. Quando o pequeno João voltou da pelada com os amigos naquele fim de tarde, carregando a bola furada embaixo do braço, ele não titubeou: seguiu para o quarto, sem reclamar nem se lamentar, e um punhado de meias velhas enroladas umas sobre as outras se transformaram em solução.

--------

Os textos de Mariana Costa podem ser lidos também em seu perfil do Instagram: @papiroetinteiro 
Não deixem de conferir! 

Créditos da Foto: http://www.seacidadefossenossa.com.br./

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

É preciso ir para algum lugar? - Vera Barrozo

  É preciso ir para algum lugar? Parei. Aqui. Ao sol. Nessa cidade que não conheço... bebo uma água com limão. Pessoas caminham...  Passam. Estar...  Estar aqui.  É Paris. (Foi tanto tempo pra chegar aqui!) Agora cheguei. Nessa mesa... E já cá não estou. Porque as letras, os rumos, os objetivos de um itinerário turístico escrito por alguém – mais provavelmente dezenas – ou centenas – de pessoas me pretende dizer o que devo fazer para... (ter estado aqui) ... agora, que cheguei aqui. Não basta estar. Não basta respirar. (Se estou em Paris, há um roteiro inteiro: enorme, quilométrico, longo, antigo, moderno...) NADA de minusculinidades... Quem é você... Que vem a Paris  para sorver  o  ar da  luz  que é  re fle ti da  ao seu redor???

Hoje não é dia do índio - Karenina Bispo

                                            Créditos da foto: Folha de São Paulo O “Dia do Índio” Eu me senti instada a falar de mim. No dia 19 de abril, foi lembrado do dique costumávamos chamar de “Dia do Índio”. No Instagram eu fiz a publicação de um Reels em que alguns indígenas falam da diversidade de seus povos, populações que já estavam aqui e habitavam este país quando houve a invasão portuguesa que dizimou a maior parte dessas populações e apagou sua cultura e existência. “Hoje não é dia do índio” dizia o vídeo.  Falando de mim, eu devo admitir que já fui essa pessoa que questionou a “legitimidade desses povos” e questionei à época se ainda “existia índio” no Brasil, sendo estes civilizados. Mas que grande preconceito, não é mesmo? Admito também que já fui uma pessoa contra cotas, fossem elas quais fossem. Mas nossa! Como o tempo passou e me fez...

Árvore - Ana Keller

  Tenho de sair porta afora! Quase como se, se não o fizer, interrompo o fluxo respiratório. E não apenas porta afora, mas árvore a dentro. Qual será dessa vez? O templo no qual vou entrar? Ah ! Lá está ela ! Parece ferida no tronco. Não, não é uma ferida. É uma cicatriz. Uma cicatriz aberta. Mostra que a criatura já superou a dor, mas continua exibindo o tamanho do ataque que sofreu. Quando Ela, no topo, se abre em galhos, esses são robustos ao invés de elegantes como os que  costumo apreciar. Como são os cactos nos desertos. Ah ! Entendo a experiência desse Templo em que penetro agora ! Esqueço-me de onde venho e nem me importo para onde vou. Respiro a abundância do meu dentro. Sinto as carnes, as veias e os nervos incharem-se. Está imenso o meu interior. E não é preciso pensar, nem elaborar nada. Basta deixar a língua passear nos lábios e saborear essa montanha de Eu que Sou entre as paredes do meu Templo. O rito prossegue e sinto toda a gente que Sou sendo abençoada. Circu...