De um bilhete sujo deixado sobre a mesa do restaurante vagabundo, o garçom pôde ler:
“...triste, tão triste... tudo o que eu tentava fazer dava errado. Todos que eu tentava agradar viravam-me a cara.
Não tinha mais o que fazer. Tentando voltar pra casa, eu só gostava de caminhar no escuro, ali eu sentia a humanidade. Ali eu soube que a humanidade e qualquer um que a defendesse eram igualmente podres. Ou ingênuos. E, nesse caso, eu não sei o que seria pior. Deixar esse homem faminto comer da própria carne? Eu bem que deveria ter comido, engolido eles todos.
É um tempo que me dói lembrar. Quando me vem a memória, eu tenho a exata noção de como o sofrimento é um valor infinito, não se subtrai por completo com o tempo.
Já morri de fome, já morri de sede, já quase morri insone.
Já morri sozinho e com os outros.
Hoje morro de tédio, nos fins de semana. Mas também morro diariamente, quando lembro de tudo que aconteceu.”
Jogou o bilhete no lixo e continuou a faxina, antes que chegassem os clientes pro almoço.
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