Sou o casal que transa discretamente no sofá da sala. Sem estardalhaços, sem a pirotecnia sexual vendida por aí, um chocolate que derrete silenciosamente na boca. Sou os corpos suados que se movimentam, o cheiro inconfundível da pele, a respiração de um no ouvido do outro. Até penso que o sofá não é meu, que o apartamento não é meu e que o casal não sou eu. Os sonhos são assim. Parece que aquela cena não tem nada a ver comigo e que fui parar ali por acaso. Tento sair antes que eles me vejam, mas quanto mais tento me retirar, mais caio para dentro do apartamento. Vou para a cozinha, para o corredor, vejo as portas dos quartos. Deve ter criança dormindo. Sou dois corpos, de tão juntos, de tão ritmados, um. Derreteram-se um no outro. É um apartamento legal, desses de adulto. Antes de ver o casal, eu estava numa quitinete, num hotel barato que literalmente caía aos pedaços. Até que os vi por uma fresta e pumba, fui parar ali com eles. Desconfiei que o homem tivesse me visto. Não queria atr...
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