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Cortam lá fora - Kelma Sousa






Cortam lá fora e aqui está tão triste. Impotência de quem vê, de quem corta. Responsabilidade de quem? Sua, minha ou de ninguém? Cortam lá fora e aqui o que aflora? Desesperança. É a vida se esvaindo aos poucos de uma forma tão rápida. Quando já se vê, nem se vê mais. Cortam lá fora, continuam cortando, aqui dentro? sangrando. Quem ousa inerte assistir ao “espetáculo” da morte? A vida é tão fugaz. As árvores que abrigavam ospássaros já não abrigam mais. As folhas verdes continuam verdes, esperança no chão, elas não voltam mais não. Cortam lá fora e agora o aqui é imensidão, deserto de vida. Quem provocou tanta ferida em meu coração? Cortam lá fora, cortam aqui, continuam cortando, eles têm de seguir. Cortam lá fora e aqui eu só posso assistir. Quem poderia impedir? Mais um minuto. Eles continuam a cortar e dos pássaros o canto ouço a entoar um choro de desespero: “eu perdi meu lar”. Cortam lá fora e eu aqui dentro tenho de terminar.

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