Olhando assim, à noite, a casa parecia mesmo mal-assombrada. Seus
contornos retilíneos e modernos se transformavam em sombras sinistras à luz da
lua. Imensa e imponente, a casa, há muito deixara de ser o lar feliz que um dia
fora. Agora, parecia oca, sem vida. O dono não mais morava lá, mas aparecia vez
ou outra para apanhar umas mudas de roupa e alguns pares de sapato.
Mesmo morta, a casa parecia perceber a presença dele e se fazia notar
sempre que ele pisava os pés nela. As manchas de infiltração, arroxeadas como
um olho socado, davam um aspecto de abandono à construção. A grama mal cortada
do jardim que um dia fora belo e acolhera tanta luz conferia à residência uma
marca de solidão indelével.
Ele entrava a passos apressados, tentando não enxergar as rachaduras nas
paredes, o musgo entrando pelas arestas. De dois em dois, subia os degraus da
luxuosa escada que levava ao segundo andar, tentando não ver, de soslaio, a
sombra de tudo o que aquele lugar um dia representava.
Ao entrar no quarto, o dono tentava não olhar para a cama majestosa que
ocupava o ambiente. Mas era impossível. Ela estava lá, solitária, vazia e
abandonada. Não só a cama, mas toda a casa, imersa em uma escuridão inevitável
e incomparável. Mergulhada em sombras do passado, em memórias inesquecíveis,
lembranças boas e ruins, a casa esperava o seu fim para que pudesse ter seu
merecido descanso.
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