Se
me pedissem para escolher entre ontem e amanhã eu, com certeza, optaria pela
incerteza do amanhã, pelo desconhecimento, pela possibilidade, pelo fazer
diferente. Daria-me um buquê de noiva e adentraria a nave de uma capela vazia
de pessoas e cheia de sentido e me casaria, sem noivo, noiva ou testemunhas
comigo mesma. Colocaria no cálice, em lugar das hóstias, todas as dores para
que se refizessem e me integrassem sem danos. Transmutadas em memórias, elas,
as dores, seriam apenas o que já vivi sem o peso de ser como sou. Diria para
mim mesma, “ Eu aceito me casar comigo e comigo estar por todos os dias da
minha vida, mais na saúde do que na doença, mais na alegria que na tristeza,
amando-me e respeitando-me por todos dias da minha vida”. Sairia da capela com
a certeza de estar construindo uma vida nova onde a gentileza comigo imperaria.
Sem máscaras ou fantasias, sem a expectativa do outro ser responsável pela
minha inteireza. Eu e eu mesma sairíamos, assim, de mãos dadas para a velha e
nova vida.
Tenho de sair porta afora! Quase como se, se não o fizer, interrompo o fluxo respiratório. E não apenas porta afora, mas árvore a dentro. Qual será dessa vez? O templo no qual vou entrar? Ah ! Lá está ela ! Parece ferida no tronco. Não, não é uma ferida. É uma cicatriz. Uma cicatriz aberta. Mostra que a criatura já superou a dor, mas continua exibindo o tamanho do ataque que sofreu. Quando Ela, no topo, se abre em galhos, esses são robustos ao invés de elegantes como os que costumo apreciar. Como são os cactos nos desertos. Ah ! Entendo a experiência desse Templo em que penetro agora ! Esqueço-me de onde venho e nem me importo para onde vou. Respiro a abundância do meu dentro. Sinto as carnes, as veias e os nervos incharem-se. Está imenso o meu interior. E não é preciso pensar, nem elaborar nada. Basta deixar a língua passear nos lábios e saborear essa montanha de Eu que Sou entre as paredes do meu Templo. O rito prossegue e sinto toda a gente que Sou sendo abençoada. Circulo desde
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