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Carta ao meu corpo - Elaine Fonseca




Lindo amigo Corpo,


Sei que faz um tempo que não  nos falamos ou talvez nunca tenhamos trocado uma ideia de uma forma tão reta e sincera. Me lembro que a última vez que nós tentamos um diálogo você não me obedeceu. Cismou em entrar em pânico.


Mas hoje eu sou outra. Sou melhor. Sou uma versão 3.0 de mim mesma. Esta mente que te habita, digo com convicção, é uma mente que busca viver com mais equilíbrio, com mais amor. E é por isso que venho, hoje, falar contigo, meu querido Corpo.


Venho te agradecer por tudo o que você tem me proporcionado nos últimos 40 anos de existência. Você me ajudou a chegar onde jamais sonhei e foi contigo que alcancei tudo o que almejei.


Verdade seja dita: você, assim como eu, não tem mais 20 anos. Há sim situações indesejadas entre nós, como aquelas celulites e aquela pochetinha que parece ter-se instalado de forma permanente. Nunca te acostumei a comer mato e por isso, hoje, você está longe de ser padrão dessas revistas ditatoriais que circulam por aí. Mas eu te amo mesmo assim.


Amo que você seja meio roliço e carnudo, amo que meus pés sejam capazes de sentir as ondas do mar e a areia nos pés. Amo que você seja capaz de correr, suar, chorar, sorrir e cantar. Por tudo isso, Corpo, eu apenas vim aqui pra te dizer que eu sei que vou “te amar por toda a minha vida”.

Elaine 



Comentários

  1. Elaine, como é bom ver a narradora ter uma relação saudável com o corpo, que :a levou a lugares nunca antes imaginados", com seus limites e despetares. Sugiro um título para todos os textos: Mulheres falam com seus corpos.

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