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Os lencinhos de papel - Elaine Fonseca

Depois de um divórcio, em geral, nunca se é o mesmo. A vida muda a gente depois de uma experiência como essa. Certa vez, alguns anos após a minha separação, fiz questão de ir ao cinema, sozinha, para assistir Comer, Rezar, Amar. Eu havia lido o livro que deu origem ao filme e aquelas 300 e poucas páginas salvaram a minha vida naquele ano. Quando saiu o filme eu precisava vê-lo. Mas precisava assistí-lo sozinha, só eu e as minhas memórias, experiências, feridas, muitas ainda não cicatrizadas. Fui. Comprei uma pipoca, um refri e, corajosamente, me embrenhei na sala escura.

No meio do filme eu chorava tanto que uma senhora muito simpática que estava ao meu lado me cedeu o seu pacotinho de lenços. Delicadamente, mesmo no escuro do cinema, ela encostou os lencinhos em minha mão. Sem nos olharmos, eu agradeci profunda e sinceramente pela delicadeza do ato. Com o rosto encharcado, usei-os um a um até o final do filme.

Sinceramente não me lembro se, quando as luzes se acenderam, agradeci à gentil senhora por ter tido sensibilidade suficiente para ajudar a secar as lágrimas de uma estranha. Mas o fato é que nunca me esqueci e serei sempre grata.




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