Pular para o conteúdo principal

Clarice disse - Lorena Santos


Clarice Lispector disse “viver ultrapassa qualquer entendimento”.  Hoje é aniversário de Clarice e escrevemos todas em volta da mesa. Não nascemos na Ucrânia. No máximo, umas vieram da beira do mar e outras brotaram aqui mesmo, neste cerrado em que nascem vermelhas Caliandras. Em Clarice pensamos hoje. E juntas em volta da mesa, escrevemos e partilhamos escritos. Mulheres que somos, hoje, unidas em torno deste ofício de desnudar-se através das palavras tal qual o fez Clarice, embora cada uma diferentemente.

Admiro, nelas, os cabelos que caem aos olhos, os fios que escorrem pelas nucas, as canetas que correm pelo papel seguradas por mãos urgentes, e poucas vezes hesitantes, o tec tec do teclado dos laptops. Admiro a fé e a dúvida que compartilham no humano e no divino. Reconheço sua beleza e felicito-me por partilharem comigo e deixarem um pouco de seu ver e seu viver.

Sentadas em volta desta mesa, não interessa se somos Clarice. Não precisamos ser. Homenageamos Clarice em nossa prática. Rendemos nosso respeito a uma escritora mulher que ousou e aqui ousamos cada uma a seu modo. E que se danem os que acham que não devemos, não podemos ou que questionam para que fazemos isso. Fazemos por que escrever para nós é viver e “viver ultrapassa qualquer entendimento”. 




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

É preciso ir para algum lugar? - Vera Barrozo

  É preciso ir para algum lugar? Parei. Aqui. Ao sol. Nessa cidade que não conheço... bebo uma água com limão. Pessoas caminham...  Passam. Estar...  Estar aqui.  É Paris. (Foi tanto tempo pra chegar aqui!) Agora cheguei. Nessa mesa... E já cá não estou. Porque as letras, os rumos, os objetivos de um itinerário turístico escrito por alguém – mais provavelmente dezenas – ou centenas – de pessoas me pretende dizer o que devo fazer para... (ter estado aqui) ... agora, que cheguei aqui. Não basta estar. Não basta respirar. (Se estou em Paris, há um roteiro inteiro: enorme, quilométrico, longo, antigo, moderno...) NADA de minusculinidades... Quem é você... Que vem a Paris  para sorver  o  ar da  luz  que é  re fle ti da  ao seu redor???

Hoje não é dia do índio - Karenina Bispo

                                            Créditos da foto: Folha de São Paulo O “Dia do Índio” Eu me senti instada a falar de mim. No dia 19 de abril, foi lembrado do dique costumávamos chamar de “Dia do Índio”. No Instagram eu fiz a publicação de um Reels em que alguns indígenas falam da diversidade de seus povos, populações que já estavam aqui e habitavam este país quando houve a invasão portuguesa que dizimou a maior parte dessas populações e apagou sua cultura e existência. “Hoje não é dia do índio” dizia o vídeo.  Falando de mim, eu devo admitir que já fui essa pessoa que questionou a “legitimidade desses povos” e questionei à época se ainda “existia índio” no Brasil, sendo estes civilizados. Mas que grande preconceito, não é mesmo? Admito também que já fui uma pessoa contra cotas, fossem elas quais fossem. Mas nossa! Como o tempo passou e me fez...

Árvore - Ana Keller

  Tenho de sair porta afora! Quase como se, se não o fizer, interrompo o fluxo respiratório. E não apenas porta afora, mas árvore a dentro. Qual será dessa vez? O templo no qual vou entrar? Ah ! Lá está ela ! Parece ferida no tronco. Não, não é uma ferida. É uma cicatriz. Uma cicatriz aberta. Mostra que a criatura já superou a dor, mas continua exibindo o tamanho do ataque que sofreu. Quando Ela, no topo, se abre em galhos, esses são robustos ao invés de elegantes como os que  costumo apreciar. Como são os cactos nos desertos. Ah ! Entendo a experiência desse Templo em que penetro agora ! Esqueço-me de onde venho e nem me importo para onde vou. Respiro a abundância do meu dentro. Sinto as carnes, as veias e os nervos incharem-se. Está imenso o meu interior. E não é preciso pensar, nem elaborar nada. Basta deixar a língua passear nos lábios e saborear essa montanha de Eu que Sou entre as paredes do meu Templo. O rito prossegue e sinto toda a gente que Sou sendo abençoada. Circu...