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Ele, Manjericão - Conceição Couto


Alto e imponente, ele está, na jardineira do apartamento da minha amiga. Ao entrar pela sala, o aroma é logo percebido. Em minutos, estamos na cozinha, e , enquanto uns se ocupam de fazer a massa passar delicadamente pela máquina, para , então, ser cortada, outros se revezam nos cuidados com o fruto vermelho que foi delicadamente mergulhado na água fervente para perder a pele e, depois de cozido, passado pela peneira, transformando-se em molho que a ele vê ser adicionado uma pitada de sal e de açúcar, azeite legítimo e pimenta branca. A seu lado, uma frigideira larga, que já viu gerações passarem por ali, abriga micrótomos de cebola douradamente alegres. Cebola e molho se misturam vagarosos para , então, receberem, as folhas retiradas, após pedida a licença, da jardineira, emprestando um novo aroma a cozinha. O molho não seria o mesmo sem ele. Depois,o resultado desse trabalho alquímico é generosamente colocado sobre a massa feita à mão com água, sal e farinha de castanha, passada pela máquina, cortada em fios, cozida na água fervente, com uma pitada de sal e um fio de azeite.

Verbal, 20 de agosto de 2018.






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