Olhava para os pés descanços com um olhar vazio e incoerente. A única coisa que sentia era a dor. Calejados, os dedos da bailarina eram esgarçados como as cordas de um piano velho. Nada tinham de belos aqueles pés e ela bem o sabia. Calçou as sapatilhas brancas, amarrou-as com a destreza de alguém que fazia aquilo há séculos.
3….2….1...e pliè, e um, dois e três. Ela levantou-se como uma boneca de corda e o olhar adquiriu uma tonalidade vívida. Entrou na dança saltitando lindamente, como uma garça graciosa. Apesar da dor imensa, ela sorria enquanto rodopiava perfeitamente diante do espelho imenso. Era ali, em meio à dança, que ela se sentia pertencer, viver, respirar. Como uma bailarina dentro de uma caixa de música que só se ergue para girar ao som das notas do cilindro.
Comentários
Postar um comentário