Ali trancada em seu quarto de paredes cor de rosa, sentada no tapete, com os olhos fechados, ouvindo sua banda preferida no walkman que ganhou de presente no último Natal, sonhava em conhecer o mar.
Sonho esse que brotou de um cartão postal que havia recebido, quando ainda estava sendo alfabetizada, de sua madrinha que se mudou para o Rio de Janeiro. Ano após ano, recebia um novo postal com imagens das mais belas praias cariocas, os quais guardava cuidadosamente em suas agendas.
A cada novo cartão, crescia o seu desejo de ir à praia. Sonhava como o dia em que veria de perto toda aquela imensidão azul. E ali, no chão de seu quarto, com os olhos fechados, podia até sentir o toque da areia em seus pés descalços e a maresia permeando seus cachos soltos sob o sol.
Por volta de seus dez anos de idade, o sonho, enfim, se tornou realidade. Foram dois dias e uma noite inteirinhos rodando de Brasília a Natal, em um Monza vinho ocupado por três adultos e três crianças. Certamente, uma viagem da Terra a Marte seria mais agradável para os tripulantes!
Ela perdeu as contas de quantas vezes tiveram que parar o carro para que uma das crianças vomitasse. A outra, ainda pequenina, insistia em espalhar-se por cima dos demais, o que tornava o carro cada vez mais apertado.
Vez ou outra era necessário parar para esticar as pernas, ir ao banheiro ou lanchar. E aí novamente a viagem a Marte parecia mais atraente. Lanchonetes repletas de moscas, banheiros sujos, água barrenta nas torneiras, sapos e pererecas encolhidos junto às portas. Ainda assim, ela acreditava que valeria a pena, contudo, só não podia imaginar que, muito em breve, se iniciaria o seu caso de amor com o mar.
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