Cheguei a Brasília em agosto. A terra seca, vermelha e um céu de tirar o fôlego. A cidade mais jovem que eu, mas também difícil, angulosa, sem centro, sem esquinas, sem nomes nas ruas.
E eu ganhei um nome novo: rosa. Era de brincadeira, quase um bullying, mas a brincadeira ficou séria. Presentes são, às vezes, assim. Mesmo os tortos. A rosa cresceu e tomou conta de mim.
E era tão diferente de mim, que ganhou vida própria. Eu, claro, era aquela menina de cidade do interior. A rosa era outra, a dos palcos de teatro, dos poemas, dos novos amigos.
E estava aí o conflito: havia duas mulheres em mim. Uma engenheira, outra poeta, uma toda o superego, outra toda o id. Eu trabalhava de dia. A rosa noturna escrevia poemas em guardanapos, pelos bares de Brasília. A criatura que a abrigava tinha o peito e a cabeça explodindo de dor.
E no Brasil turbulento dos anos 80, a vida ia num caminho estreito. O conflito se resolveu com a vitória da razão. Vitória magra, é verdade. A rosa abatida foi rebatida para o segundo plano, mas absorvida, temperando e colorindo sempre a minha vida.
E hoje, olha aí!, a rosa, a poeta, a escrevinhadora, a artista, querendo aflorar, desabrochar de novo.
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