Lembro das manhãs frias de inverno. A mãe escancarava as janelas, segundo ela, para trocar o ar. Era para ela um ritual de limpeza incluído em sua rotina diária. Eu, com minha saia curta, tentava cobrir as pernas com o pouco pano que havia.
Lembro, também, de nos sentar na escada que dava para o quintal. O avô gostava de tomar sol depois do almoço. Acabávamos, todos ali sentados, buscando pela luz precária no calor da companhia familiar.
Lembro-me, ainda, nessa infância gloriosa, das laranjeiras em flor. Do cheiro doce que se espalhava no quintal, junto com o zumbido de abelhas. Não duravam muito. Logo, os pequenos frutos viriam substituí-las e, mais adiante, o tempo traria laranjas amarelas, mangas e limões maduros daquele terreno pródigo.
Na hora do almoço, a mãe desceria à horta para colher o que estivesse pronto para uma salada ou um refogado. Trabalho do pai, que a horta retribuía com alfaces, couves e tomates que ajudavam a alimentar os filhos em crescimento.
E tinha, também, o jardim, onde a mãe cultivava samambaias, dálias, antúrios e rosas. Trocava mudas com as vizinhas, orgulhosas das variedades que conseguiam como colecionadoras de obras raras.
Lembro das brincadeiras. Ah! Eu brincava o dia inteiro. Com barbantes construíamos castelos, com caixas de fósforos, nossos móveis e medidas de leite seriam nossas panelas. Quase tudo tirávamos do próprio quintal.
A casa era, assim, um prodígio de prodigalidade, de sustento, de abrigo e da formação de nossa história.
Que singelo. Parabéns pelo texto!
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