Lembro das manhãs frias de inverno. A mãe escancarava as janelas, segundo ela, para trocar o ar. Era para ela um ritual de limpeza incluído em sua rotina diária. Eu, com minha saia curta, tentava cobrir as pernas com o pouco pano que havia. Lembro, também, de nos sentar na escada que dava para o quintal. O avô gostava de tomar sol depois do almoço. Acabávamos, todos ali sentados, buscando pela luz precária no calor da companhia familiar. Lembro-me, ainda, nessa infância gloriosa, das laranjeiras em flor. Do cheiro doce que se espalhava no quintal, junto com o zumbido de abelhas. Não duravam muito. Logo, os pequenos frutos viriam substituí-las e, mais adiante, o tempo traria laranjas amarelas, mangas e limões maduros daquele terreno pródigo. Na hora do almoço, a mãe desceria à horta para colher o que estivesse pronto para uma salada ou um refogado. Trabalho do pai, que a horta retribuía com alfaces, couves e tomates que ajudavam a alimentar os filhos em crescimento. ...
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