José tratava a si mesmo com desleixo, deixava o cabelo comprido e embaraçado. Sua magreza tornaria qualquer roupa larga demais. Andava tropeçando nas calças, que só se mantinham no corpo por conta de um velho cinto de couro, preso sempre no último espaço. Nas raras vezes em que saía de casa, as crianças da vizinhança, entre risos de deboche, o chamavam de “náufrago”. Ignorava os olhares dos adultos, mas aqueles pequenos diabinhos lhe entravam na carne. Uma a uma, as tarefas rotineiras da vida haviam se tornado um estorvo. Demandavam uma energia extraordinária e José, eventualmente, as aboliu. Olhava para si mesmo com assombro, sabia que se tornara um ser estranho, um personagem. Encontrara o mínimo denominador comum para manter-se vivo. Sobrevivia do que era desprezado pelos outros, comida estragada, água salobra, roupas rasgadas... A casa pequena de madeira herdada do avô era a única barreira à indigência. Embora fosse pouco frequente, o único traço de dignidade que p...
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