Uma panela velhinha, o fundo equilibra-se instável na boca do fogo baixo. As alças foram repostas há vinte, trinta anos... A panela tem mais. As alças pretas combinam hoje com as diversas manchas negras de tempo e de uso. Hoje em meio ao isolamento social que ultrapassa os cem dias, eu fiz brigadeiro naquela panela. A mesma receita que era dela: Uma lata de leite condensado, quatro colheres de chocolate, bem cheias, e duas colheres de manteiga ,tão cheias quanto as outras. Cada volta da colher me levou de novo à ela, a seu sorriso, a seu cantarolar e sua voz me sussurrou, mais uma vez, que o ponto é quando a gente vira a panela e a massa brilhante do doce movimenta-se una e uniforme, deixando aparecer a que ficou no fundo. “Não raspe a panela! Deixe cair em um prato fundo apenas o que se solta dela.” O que fica, com seus furinhos aerados, é a raspa. É, talvez, como o passado do brigadeiro. A gente pode até degusta-la um pouquinho, voltar a ela, mas ela não segue para a fe...
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