Custou-me uma eternidade na terapia para perceber que sou igual à minha mãe. Do cabelo cacheado ao tique de abrir as narinas quando minto, sou toda ela. Sou constante, volátil, frágil, fortaleza. Sou o espelho da alma de dona Lúcia. Mas é na dificuldade de amar que mais me sinto ela. Dona de um coração aberto ao afeto, minha mãe sempre se dispôs a doar, corpo e alma, sem esperar contrapartida. Não esperava amor em retribuição. Tampouco desilusões e rasteiras. Isso, jamais esperava, apesar de ser o troco que ganhava de meu pai, seu Ernesto. Vivi minha infância a decifrar a falta de abraços que permeava meus genitores, enquanto, na casa de amigos, o amor se consolidava como característica comum dos senis. Construí meus amores, desde o mais pueril, na mesma fôrma do desgosto. Amargo a minha incapacidade de entrega e gasto rios de dinheiro no resgate de quem poderia ter sido.
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