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Mostrando postagens de setembro, 2017

Pureza - Carolina Leal – 28/08/2017

Artista: Fernando Botero Pureza era gorda, de peitos fartos, gargalhada alta, sorriso aberto. De todas as cafetinas que ali passaram, era a mais humana. As meninas até a chamavam carinhosamente de “mainha”. Apesar disso, Pureza não se deixava enganar. Sabia tudo o que se passava entre as quatro, oito, doze, dezesseis, sabe-se lá quantas paredes daquele bordel. Corriam boatos de que Pureza era virgem. Que apesar dos anos de profissão, nunca havia se deitado com homem algum. Os considerava torpes e traiçoeiros.  Muitos tentaram lhe comprar a noite, mas Pureza não tinha preço. Disso não se tinha dúvidas.

A Creek under the Moonlight - Natália Gonçalves

Créditos da foto: Lorena Santos @loresinnerbabel One step after another. A little girl learns to run before she walks. One step after another. Laura learns how to leap before she looks. Little feet dangling in the air, arms drawing lines along the living room.  Near the house she grew up in, there is a creek. Its limpid waters allow for a privileged view of all the wild life taking place beneath the surface. Through the cold water one can see rocks in the bottom, they are black, white, and brown. By the creek, there are enormous trees whose leaves are an array of bright shades of red, orange, and purple.  Near the house she grew up in, there are tiny fireflies that used to light Laura’s path when she was running towards the creek. When it was dark, stars came down from the sky to dance with her. One step after another. They waltzed. The little girl knew then that her life would be filled with wondrous adventures. She was certain she could be anything she dreamt of,...

O Esquartejador - Eriane Gonçalves

Créditos da foto:  http://www.theprojecttwins.com/ Havia amado mulheres delgadas e  brancas. Abandonou-as, porque se tornara arriscado. Sentia falta de suas partes, sempre tão saborosas; porém, agora, seu desvario eram palavras. Queria-as assim como quis mulheres: as partes, o tecido, a superfície, as entranhas.  Iniciou com leituras minuciosas. Estudou textos, parágrafos, frases, orações, até chegar à palavra, ao radical e ao morfema. Sentindo-se seguro, passou a escrever todos os dias e a, minuciosamente acadêmico, desescrever: dissecava e retalhava parágrafos, frases, orações. Ao se deparar com a palavra, acariciava seu radical, aglutinando-se a ela lentamente. Ao violar o tema, em injustapostas posições, atentava para não haver fecundação. O inóspito e a aridez remetia-o ao gozo.  Amava o texto delgado e branco. Cada elemento regressivamente estudado: o todo não lhe interessava. Seduzia-o a frase morficamente perfeita. Penetrar as partes era sua lascívia. Viveu a...